Paulo Roberto Costa, deu o nome de 12 senadores,49 deputados federais,e 1 governador como parte de sua delação premiada.
Políticos já delatados:
Entre
2004 e 2012, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento e Refino
da Petrobras. Ocupou, portanto, esse cargo, em sete dos oito anos do
governo Lula e em quase dois do governo Dilma. Ao longo desse tempo,
comandou o que pode ser chamado de “Petrolão” — ou o mensalão da
Petrobras. As empreiteiras que faziam negócio com a estatal pagavam
propina ao esquema e o dinheiro era repassado a políticos. A quais?
Paulo Roberto já entregou à Polícia Federal e ao Ministério Público, num
acordo de delação premiada, os nomes de três governadores, de um
ministro de estado, de um ex-ministro, de seis senadores, de 25
deputados e de um secretário de finanças de um partido. Segundo o
engenheiro, Lula sempre soube de tudo. E, até onde se pode perceber por
seu depoimento, talvez a presidente Dilma — que era a chefona da área de
energia do governo Lula e presidente do Conselho da Petrobras — não
vivesse na ignorância. Paulo Roberto diz que a compra da refinaria de
Pasadena foi, sim, fraudulenta e serviu para alimentar o esquema.
Paulo
Roberto começou a prestar seu depoimento no dia 29 de agosto. Já gravou
42 horas de conversa. E, tudo indica, está apenas no começo. O
Ministério Público Federal e o STF acompanham a operação, já que a
denúncia envolve uma penca de autoridades com direito a foro especial. O
esquema que ele denuncia é gigantesco. Ainda voltaremos muitas vezes a
esse tema. Mas notem como é ridícula toda aquela conversa sobre
financiamento público de campanha. Ainda que isso existisse, o mecanismo
não serviria para impedir que máquinas criminosas se instalassem em
estatais. Se o Brasil quer acabar com boa parte da roubalheira, deve
começar privatizando as empresas públicas. Quais? Todas!
VEJA teve
acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto e traz reportagens
exclusivas na edição desta semana, com a lista dos nomes citados por
Paulo Roberto. Entre eles, estão cabeças coroadas da política
brasileira, como o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que
morreu num acidente aéreo no dia 13 de agosto, a governadora do
Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio
(PMDB). Paulo Roberto acusa ainda Edison Lobão, atual ministro das Minas
e Energia, e atinge o coração do Congresso: estão em sua lista os
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL).
PT, PMDB e
PP seriam os três beneficiários do esquema, que teria também como
contemplados os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR),
e os deputados João Pizzolatti (PP-SC) e Candido Vaccarezza (PT-SP),
que já havia aparecido como um dos políticos envolvidos com o doleiro
Alberto Youssef, que era quem viabilizava as operações de distribuição
de dinheiro. Mas há muitos outros, como vocês poderão constatar nas
reportagens de VEJA, como Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades, do
PP da Bahia.
A delação premiada env
Lula e
Dilma não quiseram se pronunciar a respeito. Os demais negam
envolvimento com Paulo Roberto. Alves, o presidente da Câmara, chega a
dizer ao repudiar a acusação: “A Petrobras é petista”. Que o PT
estivesse no centro do esquema, isso parece inegável. Um dos nomes da
lista feita pelo engenheiro é João Vaccari Neto, o homem que cuida do
dinheiro do PT. É secretário de Finanças do partido. Ele é, vejam a
ironia da coisa, o substituto de Delúbio Soares. Não é a primeira vez
que seu nome frequenta o rol de envolvidos em escândalos.
Paulo
Roberto tem noção da gravidade de suas acusações. Tanto é que, quando
ainda hesitava em fazer a delação premiada, cravou a frase: “Se eu
falar, não vai ter eleição”.
E por que
falou? A interlocutores, ele diz que não quer acabar como Marcos
Valério, que ficará por muitos anos na cadeia, enquanto os chefões
políticos do mensalão já se preparam para viver dias felizes fora do
xadrez. O homem também está muito magoado com a presidente Dilma. Até
agora, ele não fez nenhuma acusação direta à candidata do PT à reeleição
— Lula não escapou —, mas deixa claro que ela foi, sim, politicamente
beneficiada pelo propinoduto, que mantinha feliz a base aliada.
Qual vai
ser o desdobramento político disso? Vamos ver. Uma coisa é certa: as
revelações de Paulo Roberto atingem em cheio as duas candidatas que
lideram a disputa pela Presidência da República: Dilma, por razões
óbvias, e Marina, por razões menos óbvias, mas ainda assim evidentes.
Ela é a atual candidata do PSB à Presidência. Confirmadas as acusações
de Paulo Roberto, é de se supor que o esquema ajudou a financiar as
ambições políticas de Campos, de que ela se tornou a herdeira.
A situação
de Dilma, obviamente, é mais grave: afinal, ela era a czarina do setor
energético, ao qual pertence a Petrobras. Presidia também o seu
conselho. Deu um empregão para Nestor Cerveró, o homem que ajudou a
viabilizar a compra de Pasadena, que Paulo Roberto agora diz ter sido
fraudulenta. O chefão das finanças de seu partido é um dos implicados no
esquema.
Paulo
Roberto ainda está preso. Ele se comprometeu a abrir mão dos bens que
acumulou em razão do esquema fraudulento e a pagar uma multa. As pessoas
que atuam na investigação têm agora de confrontar suas informações com
outras provas colhidas, com o objetivo de verificar se suas informações
são procedentes. Se forem e se ele realmente ajudar a desbaratar um
esquema de falcatruas bilionárias, pode até ganhar a liberdade.
A República treme.
"O governo do PT patrocinou um assalto à Petrobras", diz Aécio
Candidato do PSDB à presidência afirma que Dilma Rousseff não poderá alegar que não sabia de megaesquema de corrupção na Petrobras
A menos de 30 dias do primeiro turno, as campanhas da petista
Dilma Rousseff e da ex-senadora Marina Silva (PSB) tentam estancar a todo custo
a sangria provocada pelos depoimentos do ex-dirigente da Petrobras e controlar
uma possível fuga de votos das candidatas. Terceiro colocado nas pesquisas de
intenção de votos na corrida presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB-MG)
avalia que as revelações do ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras,
Paulo Roberto Costa, sobre a montagem de um balcão de distribuição de propina a
deputados, senadores, governadores e até um ministro de Estado aliados ao
Palácio do Planalto podem mudar o resultado das eleições de outubro. “O governo
do PT patrocinou um assalto à Petrobras. No momento em que esse governo assaltava
o país, eu fazia oposição”, disse Aécio em entrevista exclusiva ao site de
VEJA.
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Os nomes de autoridades citados por Paulo Roberto Costa como participantes do esquema de propina são essencialmente da base de sustentação do governo da presidente Dilma Rousseff. O senhor acha que houve conivência por parte dela? Não dá mais para vir com essa história de que não sabia de nada. Nós estamos falando de algo talvez ainda mais grave do que o mensalão 1, que é o mensalão 2, que coexiste há mais de nove anos no poder. Continua a haver um processo, desde o início, que não foi interrompido: utilização de dinheiro público, empresas públicas, superfaturamento de obras para beneficiar um grupo político que quer se manter a qualquer custo no poder. O PT perdeu, a meu ver, a autoridade sequer para apresentar um projeto de continuidade desse modelo que está aí. É vergonhoso o que aconteceu. As investigações tem que ir a fundo. Espero que o Brasil conheça o que aconteceu e as punições possam vir. A presidente da República tem, sim, que dizer o que aconteceu na empresa que ela comandou com mão de ferro. Ela foi do conselho da Petrobras durante doze anos.
Com as denúncias de Paulo Roberto Costa, cai a tese da presidente Dilma Rousseff de acusar setores oposicionistas de tentar desmoralizar a Petrobras? As denúncias do senhor Paulo Roberto mostram que a Petrobras vem sendo assaltada ao longo dos últimos anos por um grupo político, comando pelo PT, com o objetivo de perpetuar-se no poder. Quando nós apresentamos a proposta da criação da CPMI da Petrobras os líderes do governo diziam que isso era uma jogada eleitoral da oposição apenas para prejudicar o governo nas eleições. A presidente da República chegou a dizer que nós estávamos, com os ataques que fazíamos a Petrobras, depondo contra a imagem da nossa principal empresa. Quem desmoralizou a nossa principal empresa foi esse governo comando pela atual presidente da República. Não é possível, sentada na mesa com esses mesmos réus, em especial com esse diretor que está preso hoje, dizer que não tinha ideia do que está acontecendo. Ainda que pela incapacidade de ver o que acontece no seu entorno, ela não pode querer disputar novamente a Presidência da República.
Segundo a delação premiada feita por Paulo Roberto Costa, o ex-governador de Pernambuco e ex-candidato do PSB, Eduardo Campos, estaria envolvido no esquema. Eu tenho muito cuidado com relação a isso. São acusações que eu não conheço. Li pela manhã e me dei conta do tamanho dessas denúncias. Todos nós vamos ter que estar prontos para dar explicações sobre quaisquer questões. Eu acho que não dá é para pessoas envolvidas dizerem que não sabiam de nada. Vamos dar tempo ao tempo e esperar que, realmente, essas acusações que hoje citam nominalmente algumas pessoas possam ser comprovadas, com indícios mais claros. Eu vejo tudo isso com alguma cautela. Mas eu reafirmo, e não há dúvidas em relação a isso, é que o governo do PT foi conivente com o maior assalto que já se fez aos cofres da maior empresa brasileira, a Petrobras. O governo do PT patrocinou um assalto à maior empresa brasileira. Isso jamais ocorreu na história do Brasil.
A citação de Eduardo Campos entre os que teriam recebido propina desconstrói o discurso da candidata Marina Silva sobre a “nova política”? É possível atender a interesses de aliados sem cair em esquemas de corrupção? Nós estávamos desde lá de trás denunciando esse governo. Eu vejo hoje críticas ao PSDB por uma pseudopolarização com o PT. Nós estávamos desde sempre, lá atrás, desde 2003, combatendo esse governo, denunciando o aparelhamento da máquina pública, as nomeações políticas na Petrobras. Será que quem estava certo era quem estava dentro desse governo durante todo esse período? De alguma forma, até se beneficiando, mesmo que não diretamente. Se beneficiando dessa estrutura que se manteve para sustentar o governo. A minha diferença maior para as duas candidatas é que em nenhum momento eu participei desse governo. No momento em que esse governo assaltava o país, eu fazia oposição. De nenhuma forma eu participava disso. Nem diretamente nem indiretamente. Os cargos que eu ocupei não foram, de alguma forma, sustentados por esse governo corrupto.
O esquema do mensalão movimentou 173 milhões de reais. A Polícia Federal estima que, no caso da operação Lava-Jato, sejam pelo menos 10 bilhões de reais. É mais grave que o escândalo que colocou a cúpula do PT na cadeia? O mensalão 2, esse atual, a meu ver, é mais grave do que o mensalão 1 até pelo tempo que durou esse assalto. Um processo que não pode ser agora atribuído a uma pessoa, a alguém que se utilizou de determinado momento de um cargo que ocupou em benefício próprio. É uma engrenagem institucionalizada para roubar no seio da nossa maior empresa para beneficiar o grupo que está no poder. O atual governo e a própria presidente da República são, no mínimo, beneficiários daquilo que a Polícia Federal chamou de organização criminosa instalada na Petrobras. Dilma foi beneficiária desse esquema. E esse esquema é que vem sustentando o seu governo, dando a ela maioria no Congresso e pagando diretamente sua base de apoio. Estamos diante do mais grave escândalo de corrupção da nossa história contemporânea. Acho que o mensalão 2 tem níveis de sofisticação que fazem dele algo mais grave do que o primeiro. O mensalão 2, pelo que nós estamos vendo, se manteve e se arrastou pelos onze anos desse governo.
As pesquisas de intenção de voto o colocam em terceiro lugar na corrida pelo Palácio do Planalto. As denúncias podem mudar o quadro eleitoral? Eu continuo acreditando muito na possibilidade de vitória. Nós somos a oposição a tudo isso. Eu não sou oposição ao PT agora. Eu sou oposição a esse modelo desde que essa bandalheira, essa forma de agir, começou. Nem todos podem dizer isso, né? A atual candidata à Presidência da República perderá as eleições. Não há condições morais dela apresentar algo novo ao Brasil. Comete a imprudência de destituir, mesmo mantendo no cargo, o ministro da Fazenda. E se ele tivesse hoje uma forma de preservar sua própria história, pediria ele mesmo para sair. Ministro da Fazenda ou você nomeia ou demite. Não pré-anuncia que vai demiti-lo lá adiante. Quem é que vai conversar hoje com o ministro da Fazenda sobre determinada questão relevante para a economia sabendo que daqui a três meses ele não vai estar lá para tocar aquilo que foi eventualmente acertado? O dano só não é maior porque ele já tinha perdido toda a credibilidade. Agora que autoridade a presidente vai ter? Tendo comandado a maior empresa brasileira, a Petrobras, como comandou e fazia questão de mostrar que era ela quem mandava com mão de ferro, vendo nas suas barbas esse processo de corrupção beneficiar seu próprio projeto.
Mas a presidente Dilma ainda se mantém líder nas pesquisas. Eu acho que o PT perdeu a eleição. O PT perdeu a eleição. Agora tem uma nova candidata que eu respeito pessoalmente, mas precisa explicar seus vínculos com esse grupo político. Marina tem uma militância no PT maior do que da própria Dilma. Não acredito que ela possa ter um vínculo direto com isso. Mas eu não vi a indignação dela no momento em que o mensalão foi denunciado. Lá atrás, no momento em que o mensalão foi denunciado, não me lembro dela considerando isso uma prática da velha política, se indignando e pedindo para sair do partido. Ao contrário. É um direito dela.
O senhor acha que Marina Silva deve defender publicamente Eduardo Campos das acusações feitas por Paulo Roberto Costa ou é um problema do PSB? Todos tem que dizer claramente o que pensam. Terceirizar responsabilidades não é um bom exemplo para quem se autointitula representante da nova política. Nada mais velho na política do que a corrupção. Esse modelo do PT de utilizar a estrutura do Estado em benefício do seu projeto de poder é tudo, menos novo. Isso existe desde que o PT assumiu o governo. Já existia nas administrações municipais do PT. Nós sabemos disso em várias denúncias, como no caso de Santo André, talvez o mais marcante deles. O PT sempre buscou nas oportunidades que teve para utilizar empresas e espaços públicos para financiar a sua permanência no poder. Isso não mudou. O que mudou foi a escala, agora infinitamente maior. Eu sempre soube e ataquei isso. A outra candidata conviveu de alguma forma com esse modus operandi do PT. Temos duas alternativas. A minha é clara, de combate a tudo isso e restabelecer a meritocracia. Resgate a nossas empresas públicas, e vamos afundo nas investigações. Queremos as investigações como propusemos na CPMI. E que os responsáveis sejam punidos. Outra candidatura vai ter que mostrar como convive com esse tipo de corrupção. Eu vejo muito esse discurso da nova política. Para mim sempre houve a boa e a má política. E a boa política é que a nós praticamos. A má política é a que o PT pratica. E, na verdade, não é de hoje. Desde quando a candidata Marina era um membro influente no partido.
Fonte: Reinaldo Azevedo/Veja/Folha de São Paulo/UOL
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