Brasileiros
Ainda há um grande esforço para tentar compreender melhor a
motivação que leva às ruas milhares de brasileiros, defendendo um sem número de
causas e reivindicações. A este respeito, lembrei-me que em outubro de 2011 –
portanto há quase dois anos – assinei um artigo, aqui mesmo, nesta Folha,
abordando a imprevisibilidade da política, as grandes transformações em curso e
a busca coletiva por uma nova ordem.
Sem qualquer pretensão de leitura antecipada sobre os
protestos que hoje varrem o país, inimagináveis há até poucos dias, já naquele
momento era perceptível uma crescente onda de desencanto mundo afora com
regimes autoritários, a corrupção e a crise econômica, temas encarnados por
levantes como o da Primavera Árabe, os Indignados na Espanha e o Ocupe Wall Street,
em Nova York.
A Velha Política e o Novo Brasil
O pronunciamento da presidente Dilma
Rousseff contém acertos e erros.
Sob suspeita de desvios.
Como forma de tentar demonstrar compromisso com a saúde, por
exemplo, a presidente disse que os investimentos federais nesta área vêm
aumentando, quando todo o país sabe que a participação do governo federal nos
gastos nacionais do setor vem caindo de forma acentuada há 10 anos, desde que o
PT assumiu o governo. Quando todo o país sabe que o governo se empenhou
especialmente para impedir que a regulamentação da emenda 29 fixasse patamar
mínimA Presidente acertou ao convocar, mesmo que com atraso, a rede nacional de rádio e TV – a primeira realmente necessária em sua administração – e apresentar à população e ao mundo a palavra do governo brasileiro sobre os últimos acontecimentos.
Errou, no entanto, no conteúdo.
Na prática, reproduziu exatamente o tipo de ação política que está sendo rechaçada nas ruas de todo o país. Fez um discurso distanciado da verdade, reforçando a política como território distante de valores e da própria realidade.
A presidente perdeu uma oportunidade única de se conectar com a população. Para isso, precisaria ter reconhecido erros e responsabilidades para, em seguida, ter a legitimidade de transformar essa extraordinária manifestação de desejo de mudanças em combustível para uma verdadeira transformação no e do país.
No entanto, escolheu fazer um discurso que reproduz o tradicional jeitinho de fazer política no Brasil: empurrando os problemas para debaixo do tapete, fingindo que não tem nada a ver com o que está acontecendo, que é tudo responsabilidade dos outros, que só não fez melhor porque não foi permitido.
Fez, assim, um discurso como se a população brasileira fosse formada por alienados e desinformados. Ela está nas ruas justamente mostrando que não é.
A presidente falou no seu compromisso com a transparência e com a luta contra a corrupção. Enquanto isso, no Brasil real, a mesma presidente proíbe a divulgação dos gastos das suas viagens ao exterior e, pensando nas eleições, abriga novamente no governo a influência de pessoas que ela mesma havia afastado o de 10% de investimento no setor para a esfera federal.
Com o foco das manifestações no transporte coletivo a
presidente diz agora que vai discutir o assunto. Nenhuma palavra para o fato do
seu governo agir exatamente no sentido oposto: faz desonerações isoladas para
atender lógicas e interesses específicos, estimulando a aquisição de veículos
individuais, e defendendo projetos mirabolantes como o trem bala, em detrimento
de investimento em metrôs das grandes cidades.
Depois de gastar milhões em publicidade para colocar o
governo federal à frente das obras dos estádios, agora, candidamente, a
presidente diz que nada tem a ver com isso, resumindo os recursos empregados a
financiamentos a serem pagos por estados e empresas. Nenhuma palavra sobre os recursos do Tesouro
Nacional que estão abastecendo os cofres do BNDES. Nenhuma observação sobre a
óbvia constatação de que os recursos que estão financiando estádios poderiam
estar financiando metrôs, estradas e hospitais.
Mas há, nessa afirmação da presidente, um aspecto positivo.
É a primeira vez que o governo reconhece que obras realizadas
com recursos financiados não devem ser consideradas obras federais, já que os
financiamentos serão pagos pelos tomadores. Registra-se, assim, uma nova e mais
justa leitura sobre programas como o Luz Para Todos e o PAC, nos quais as obras realizadas com os financiamentos que
serão integralmente pagos por empresas, estados
e municípios têm sido apresentados, sem nenhuma cerimônia, como obras da
União.
Ao invés de dizer ao país que o governo não investiu na Copa
– como se alguém pudesse acreditar nisso – não seria mais honesto mostrar as
razões que levaram o governo a lutar
pela oportunidade de realizá-la e depois investir nela?
Não seria mais respeitoso com os milhões de brasileiros que
estão nas ruas, reconhecer a parcela de responsabilidade do seu governo – que,
registre-se, não é só dele- com os problemas enfrentados hoje pela população?
Ao invés de oferecer aos brasileiros mais uma vaga carta de intenções, não teria feito
melhor a presidente se tivesse se comprometido com medidas concretas? Se
tivesse dito que orientaria o seu partido no Congresso a desistir de retirar
poderes do Ministério Publico e de
impedir a criação de novos partidos? Ou, como bem disse o Senador Agripino
Maia, se dissesse que procuraria o presidente do STF para manifestar apoio à
conclusão do processo do mensalão?
Quem ouviu a pronunciamento da Presidente da República ficou
com a impressão de que se tratava de um
governo começando agora e não de uma gestão que responde pelo que foi – e não
foi – feito no país nos último 10 anos.
Através da voz da presidente, a velha política falou ao novo
Brasil que está nas ruas. Pena.
Classe Média
Se os partidos brasileiros, sem exceção, saem politicamente
abalados do saudável vendaval de passeatas no país, um deles certamente se
ressente mais: o PT.
A presença maciça da classe média no movimento de protesto
coloca em xeque, com mais ênfase, as contradições do partido. Pressionado a
oferecer respostas ao país, o governo federal improvisou uma constituinte
restrita, rapidamente abandonada, e busca, por meio da proposta de um
plebiscito de complexa elaboração, aprovar uma agenda que interessa muito mais
ao PT do que ao Brasil.
Senador Aécio Neves
participa de encontro da Sociedade Rural Brasileira
O senador Aécio Neves participou, na noite dessa segunda
feira, em São Paulo, de encontro promovido pela Sociedade Rural Brasileira,
entidade representativa do agronegócio, fundada há 93 anos. Antes de o senador
discursar, falaram o presidente da entidade Cesário Ramalho da Silva e os
ex-ministros da Agricultura Pratini Moraes e Roberto Rodrigues. Todos os
palestrantes trataram dos problemas que a agropecuária enfrenta no Brasil.
O senador Aécio falou da importância da gestão para o
enfrentamento das demandas do setor e garantiu que o PSDB buscará apresentar
alternativas para ouvir diretamente os vários representantes do segmento. Após
o evento, o senador concedeu entrevista à imprensa.
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