O Mensalão:Barbosa quer prisões até julho e diz que sistema é "frouxo"
Presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa disse que as penas dos 25 condenados no
julgamento do mensalão devem começar a ser cumpridas até 1.º julho deste
ano. Ele afirmou, porém, que por causa de um sistema penal "frouxo" boa
parte dos condenados deverá ficar na cadeia pouco mais que dois anos.
"Eu
espero que até julho (sejam expedidos os mandados de prisão)", disse o
ministro em entrevista a correspondentes internacionais. "Mas a minha
expectativa é que tudo se encerre antes de 1.º de julho, antes das
férias."
Treze
dos condenados têm penas superiores a oito anos, o que os levará ao
regime fechado de prisão. O restante cumprirá penas diferenciadas, como o
regime semiaberto, no qual o condenado apenas dorme na cadeia.
Barbosa
afirmou que espera encerrar o julgamento de todos os recursos dos
advogados contra a condenação até essa data. Depois, os mandados de
prisão poderão ser expedidos. "Os votos de alguns ministros ainda não
foram liberados e eles ainda têm um prazo para fazer isso. Assim que
todos apresentarem os seus votos, eu vou determinar a publicação, e aí
começa a correr o prazo de recursos dos réus", disse. O calendário só
não será cumprido, segundo ele, se houver "chicana" dos advogados.
Barbosa
criticou as penas impostas pelo tribunal no julgamento do mensalão e
afirmou que há um problema sistêmico na Justiça criminal. "Nosso sistema
penal é muito frouxo. É um sistema totalmente pró-réu,
pró-criminalidade", disse.
"Essas sentenças que o Supremo
proferiu aí, de dez anos, 12 anos, no final se converterão em dois anos,
dois anos e pouco de prisão, porque há vários mecanismos para ir
reduzindo a pena", disse. "E, por outro lado, esse sistema frouxo tem
vários mecanismos de contagem de prazo para prescrição que são uma
vergonha. São quase um faz de conta. Tornam o sistema penal num
verdadeiro faz de conta."
Barbosa
chamou o sistema prisional de "caótico". "Isso, no Brasil,
infelizmente, é utilizado para afrouxar ainda mais o sistema penal. O
que eu acho um absurdo", disse o presidente do STF. "Os governantes
brasileiros não dão importância a esse fenômeno que é esse sistema
prisional caótico."
Apontado
pelo Supremo como figura central no esquema de pagamento de
parlamentares em troca de apoio político ao governo Luiz Inácio Lula da
Silva entre os anos de 2003 e 2005, o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu foi condenado a dez anos e dez meses de reclusão. Já o empresário
Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como o operador do
mensalão, foi condenado a mais de 40 anos.
O
julgamento da ação penal do mensalão terminou em 17 dezembro do ano
passado, após mais de 4 meses de sessões e embates entre o relator,
ministro Joaquim Barbosa, e o revisor, ministro Ricardo Lewandowski. Mas
o acórdão do julgamento ainda não foi publicado, pois depende da
liberação de todos os votos e das notas taquigráficas, que estão sendo
revisadas pelos ministros. Depois de publicada a decisão, os advogados
de defesa terão prazo para recorrer
Barbosa já antecipou o entendimento de
que não serão novamente julgados os casos em que houve quatro votos
pela absolvição. Advogados de defesa tentarão refazer o julgamento
desses réus por meio de embargos infringentes. Um dos possíveis
beneficiários seria Dirceu, condenado pelos crimes de corrupção ativa e
formação de quadrilha.
Reações. O advogado José Luís Oliveira Lima, que defende Dirceu, não comentou as declarações do presidente do STF.
O
criminalista Marcelo Leonardo, que defende Marcos Valério, criticou a
"futurologia" de Barbosa. "Enquanto o acórdão não for publicado,
qualquer previsão não tem sustentação. Se não se souber quais os
recursos interpostos e sua fundamentação, não se deve fazer futurologia
na Justiça".
FONTE:ESTADÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário